sábado, 22 de abril de 2023

Notas de Formação - Lição 18

 Notas de Formação

Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco de Assis (TSSF)
Região do Brasil - TSSF Brasil


A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário.

Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 18
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.



Lição 18:   Personalizando a Regra Básica da Vida:

Dos Princípios: 10. A Terceira Nota:

A Alegria (Dias 28 - 30)

 

O que há neste estudo?

           Nesta lição, exploraremos a alegria, a terceira nota encontrada nos Princípios dos membros da Terceira Ordem, Sociedade de São Francisco. Vamos considerar como a Alegria é um estado interno, que está entrelaçado com o sofrimento e que deve ser compartilhado.

 

Para começar a explorar:

          1. O autor americano J.D. Salinger disse: “a felicidade é sólida, a alegria é líquida”.  O que você acha que ele quis dizer com isso?  Como você descreve a diferença entre felicidade e alegria?

 

 2. De que maneiras você recebe a alegria?  Como você compartilha essa
alegria com os outros?

 

 3. Quando foi a última vez que você riu?  Descreva o momento.

Da Regra Básica para Postulantes

 

10.  A Terceira Nota: A Alegria (Dias 28-30)

    Estarei atento ao que me dá alegria e como posso me abrir para receber esse presente. Eu procurarei sarar as experiências que me isolaram deste presente.

    Estarei ciente de como a alegria pode iluminar as dificuldades da minha vida.

    Como Francisco e Clara, orarei por maneiras de superar a negatividade em relação àquilo que considero impuro ou repugnante, e aprender a valorizá-lo.        

 

 

Aprendendo com as Fontes Franciscanas

 

Clara nos deseja alegria

          Exultai e alegrai-vos muito, cheia de grande júbilo e alegria espiritual! Crescendo do bom para o melhor, de virtude em virtude, a fim de que Aquele, a quem servistes com todo ardor da mente, digne-se conceder-vos o prêmio almejado.

                                       —Santa Clara, 1a Carta a Inês de Praga [1CCL], 21, 32

 

Francisco explica a verdadeira e perfeita alegria

          ...Um dia, o Bem-aventurado Francisco, em Santa Maria, chamou Frei Leão e disse: Escreve, Frei Leão,. Este respondeu: Eis que estou pronto. Escreve qual é a verdadeira alegria.

          Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris entraram na Ordem. Escreve: Não é a verdadeira alegria. Do mesmo modo, que todos os prelados ultramontanos, Arcebispos e Bispos e até mesmo o rei da França e da Inglaterra. Escreve: Não é a verdadeira alegria. Do mesmo modo, que Irmãos meus foram para os infiéis e converteram todos eles à fé; e ainda que tenha tanta graça de Deus a ponto de curar enfermos e de fazer muitos milagres: digo-te que em todas estas coisas não está a verdadeira alegria.

          Mas qual é a verdadeira alegria? Volto de Perusa e, na calada da noite, venho para cá. É estação barrenta e fria de inverno, de modo que as gotículas de água fria congelam nas extremidades da túnica e continuamente ferem as pernas, fazendo-as sangrar. E, todo coberto de lama, frio e gelo, chego à porta e depois de ter batido e chamado por muito tempo, vem o Irmão e pergunta: Quem é? Eu respondo: Frei Francisco. E o mesmo diz: Vai embora. Não é hora decente de chegar. Aqui não entrarás. E, a mim que insisto responde de novo: Vai-te, tu és um simplório e idiota: de jeito nenhum entrarás. Nós somos tantos e tais que não precisamos de ti. E de novo me coloco diante da porta e digo: Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite. E ele responde: Não o farei. Vai lá para os Crucíferos pedir-lhes hospedagem. Digo-te que, se tiver paciência e não ficar abalado, nisto está a verdadeira alegria e a verdadeira virtude e a salvação da alma.

—Francisco de Assis, “Os escritos sem data”: Verdadeira e perfeita alegria, [VPA]

 

Uma Leitura de os Princípios

Dia Vinte e Oito – A Terceira Nota A Alegria

As terciárias e os terciários, regozijando-nos sempre no Senhor, mostramos em nossas vidas a graça e a beleza do júbilo divino. Nós relembramos que somos seguidores do Filho do Homem, aquele que comia e bebia, que amava os pássaros e as flores, que abençoava as crianças pequenas, que era amigo de coletores de impostos e de pecadores, e que se sentava à mesa tanto de ricos como de pobres. Nós nos divertimos e rimos, regozijamo-nos com o mundo de Deus, com sua beleza e com as criaturas viventes, não reconhecemos a nada como coisa comum ou impura. Nós nos misturamos livremente com outras pessoas, estamos sempre dispostos a confortar os de coração quebrantado, e a trazermos alegria às vidas dos outros. Trazemos dentro de nós uma paz e uma felicidade interiores que os outros podem perceber, mesmo se não conhecem a fonte de onde elas provêm.

Explorando mais a fundo

          A famosa história que São Francisco conta acima sobre a alegria perfeita é provavelmente uma das mais malcompreendidas de seus ensinamentos. Ele não está sugerindo que a alegria advenha de aceitar abusos e que, se queremos alegria, devemos buscar dificuldades. Não. O que ele está percebendo é que a alegria não está sujeita ou influenciada por circunstâncias externas. É nossa capacidade de manter a serenidade e a confiança interiores durante os períodos de doença e sofrimento (Dia do Princípio 30). O oposto da alegria não é tristeza ou sofrimento; esses são aspectos essenciais da alegria; o oposto é entorpecimento. E como encontramos tantas maneiras de nos entorpecer!

          O psiquiatra e escritor James Finley explica assim: "Deus não nos protege de nada, mas nos sustenta em tudo". Eis a cruz, no meio do pior trauma, como a execução de Jesus, temos uma força interior de Deus que nos sustém e nos permite dizer com Jesus: “perdoa-os porque não sabem o que estão fazendo." O irmão Francisco entendeu isso. Ele pinta um caso extremo de abuso para mostrar que, mesmo assim, nossa confiança em Deus, nossa alegria, não pode ser prejudicada. A alegria é a nossa vida interior em Deus e não pode ser roubada.

          Kahlil Gibran em seu livro, O Profeta, explica que alegria e sofrimento são inseparáveis:

          Alguns de vocês dizem: "Alegria é maior que tristeza"

          e outros dizem: "A tristeza é maior".

          Mas eu lhe digo, eles são inseparáveis...

          Quanto mais profunda a tristeza esculpe seu ser, mais alegria você pode conter.

         

          A alegria é encontrada em nossas conexões: conexão consigo mesmo, especialmente com nossas idiossincrasias, conexão com Deus, conexão com os outros, conexão com criaturas e criação. É perceber que todos sofremos, morremos, sentimos falta, amor e prazer.  O sofrimento vem da separação ou do apego ou entorpecimento. Quando nos apegamos a essa ou aquela coisa ou pessoa, nos desconectamos do todo e do mistério; em vez de alegres, ficamos agitados e mal-humorados. A pequena Teresa de Lisieux disse à irmã Celine, que estava chateada com suas próprias falhas: "Se você estiver disposta a suportar serenamente o suplício de ser desagradável para si mesma, será um local agradável de abrigo para Jesus".  Francisco, Clara e Thérèse nos ensinam a abandonar o ego que se apega ao "sentir-se bem" por necessidade;  e, em vez disso, deleitar-se com nosso Deus, que se deleita em nós. Nossa regra pessoal de vida é uma prática que nos ajuda a parar de segurar, procurar nos lugares errados, encontrar maneiras de nos entorpecer, ou seja, abandonar as coisas que nos separam do amor, para que possamos viver em alegria.

          A alegria reside no coração, não em algum lugar fora de nós, esperando ser

 encontrada ou apreendida. Só precisamos estar presentes. E, no entanto, embora seja um estado interior do ser, a alegria insiste em ser compartilhada. Não pode ser contido ou deixado escondido em nossos corações para encolher-se. A minha alegria é a nossa luz que brilha para os outros verem e desfrutarem. Ela brilha como uma jóia com muitas facetas: facetas como serenidade e paz, brincadeiras e risadas, criatividade, descoberta, compaixão, gratidão e entusiasmo. Ele nos sustenta na dor e na tristeza, na tristeza e na perda, bem como nos momentos de felicidade. Isso ocorre porque a alegria, como humildade e amor, é uma marca do relacionamento com Deus e com os outros. Contê-lo é separá-lo do relacionamento e depois se perde. Mas quando compartilhamos, nós e outros estamos presentes a suas muitas facetas.

          O que podemos considerar obstáculos à alegria, emoções como medo, ansiedade, estresse, tristeza, desespero, solidão, inveja são obstáculos apenas quando ficamos presos nelas. Elas também podem ser portas de entrada para aquele lugar mais profundo onde nosso medo encontra a graça, onde nossa humanidade encontra o divino, onde experimentamos o cruzeiro do horizontal e do vertical, do pessoal e do universal, da cruz. Duas pessoas que passaram tremendo sofrimento em suas vidas pela opressão e pelo exílio, o 14º Dalai Lama e o ex-terciário arcebispo Desmond Tutu, descrevem oito qualidades da alegria, quatro da mente e quatro do coração, em O Livro da Alegria: Felicidade Duradoura em um Mundo em Mudança por Tenzin Gyatso (2016). Eles incluem:

 

Qualidades da mente

 1. Perspectiva: existem muitos ângulos diferentes

          A maneira como vemos o mundo é a maneira como experimentamos o mundo.  Se nossa visão for estreita, seremos infelizes porque a vida é repleta de variedade.  Não teremos capacidade para acomodar a diversidade. Mas se pudermos ampliar nossa visão e ver a imagem maior, desbloquearemos maravilha e alegria. Estaremos abertos a outros pontos de vista e seremos menos reativos quando as coisas não acontecerem do nosso jeito. Em vez disso, responderemos com curiosidade que abre o caminho para a alegria. Especialmente digno de nota é encontrar uma maneira de se reconciliar com o inimigo, "aquele cuja história você não ouviu ainda".

 

2. Humildade: somos todos iguais

          No meio de toda a diversidade, no fundo, somos todos iguais. Todos somos feitos de poeira estelar, do húmus, e temos as mesmas necessidades, esperanças e desejos. Todos nós precisamos de comida, dos outros e do amor. A humildade não se importa com status, mas com mutualidade. Enquanto essa perspectiva aponta para a diversidade, e a humildade para a unidade, ambas mudam nosso olhar de eu/mim/meu para nós/ nosso. (cf. Lição 16)

 

 3. Humor: rir, brincar é melhor

          O humor começa com a capacidade de relaxar, de não tomar-nos a sério, de rir de nós mesmos. É bom para a nossa saúde, nossa mente e nosso coração. O humor promove nossa conexão com os outros e nos ajuda a aceitar o inesperado. A surpresa se torna motivo de prazer, em vez de desânimo. O humor é a habilidade de afrouxar o punho cerrado e prosseguir, como aconselha a irmã Clare, com passos leves.

 

4. Aceitação: o único lugar onde a mudança pode começar

          Aceitar o que está acontecendo ao nosso redor não é resignação e derrota, mas um chamado ao ativismo. Ver a realidade do nosso mundo é como nos engajamos no mundo em seus próprios termos, não para mantê-lo, mas para transformá-lo. Não podemos mudar o que nos recusamos a ver. Uma vez que reconhecemos o bem e o mal, a alegria e o sofrimento, podemos usá-los como portais de compaixão, bondade e amor. A aceitação nos obriga a deixar o nosso caminho e nos abre para encontrar novas maneiras de fazer mudanças.

 

Qualidades do Coração

 5. Perdão: libertando-nos do passado

          O fardo de carregar as mágoas do passado, não importa quão traumático, fica cada vez mais pesado com a idade. Não podemos suportar isso sem apagar a alegria; ou melhor, podemos suportá-lo com o bálsamo de cura da alegria. Com olhos claros, podemos lembrar nossas mágoas, mas segurá-las envoltas em compaixão, como se esquecidas. Raiva, mágoa e desespero são liberados para o terninho perdão. O peso do passado se torna leve como o dia do meio dia, oferecendo sabedoria e conectividade.

 

6. Gratidão: tenho a sorte de estar vivo

          Estudo após estudo revela que a gratidão é o segredo de uma vida feliz, independentemente das circunstâncias. Ela nos ajuda a cumprimentar cada momento com admiração, surpresa e possibilidade. A gratidão nos motiva e nos conecta. Chamamos a Eucaristia, A Grande Ação de Graças, porque conecta os membros da comunidade uns aos outros e a Deus e nos motiva a servir o mundo.

 

 7. Compaixão: algo em que queremos tornar-nos

          Pensar em termos de "eu" aumenta nosso sofrimento, mas aliviar o sofrimento dos outros alivia nosso próprio sofrimento. Em uma palavra, compaixão é cuidado e preocupação com o sofrimento de outras pessoas sem controle ou com a necessidade de consertá-lo. Ela  incorpora as palavras finais de Jesus: "Estou com vocês sempre." (Mt 28:20).

 

8. Generosidade: estamos cheios de alegria

          Quer alegria? Faça outra pessoa feliz. É profundamente gratificante contribuir e ser generoso com os outros. A generosidade está no centro de nossa humanidade e se manifesta de três maneiras: doação ou serviço material, doação ou cura protetora e doação ou amor espiritual. Lembrar que é mais difícil receber do que dar, que nem todos aceitarão sua generosidade: dê tudo, não se contenha, esvazie-se e mais voltará para você, mais do que você jamais sonhou ser possível.

Ministério em Ação

Ação 1. Faça uma festa!  Convide uma variedade de pessoas, aquelas fáceis de ter por perto e algumas que representam um desafio para você.  E faça o que fizer, divirta-se!

 Ação 2. "Treino da felicidade de cinco minutos" da autora Nataly Kogan, que consiste nos seguintes exercícios:

          1. Aceitação: reserve dois minutos para ficar quieto e silencioso. Durante esse tempo, observe como você está sem se julgar. Esteja presente aos seus sentimentos e aceite seu estado atual, seja ele negativo ou positivo. Aceite que não há problema em não se sentir bem ou estar bem. O que importa não é como você está, mas como você se aceita e tem compaixão de si.

          2. Gratidão: capture duas ou três coisas pelas quais você é grato e anote-as ou compartilhe-as com alguém. O bispo sueco Krister Stendahl observa que não podemos/não devemos ser gratos por tudo, mas a cada momento existe algo pelo qual podemos ser gratos.

          3. Gentileza: faça ou planeje fazer um ato intencional de gentileza para alguém.  Isso pode ser algo tão simples quanto entrar em contato com alguém, perguntar como está e expressar companheirismo.

          4. Conecte-se a um senso de significado: faça a pergunta "por que" por trás de algo na sua lista de "tarefas a fazer". Como e o que você precisa fazer para ajudar alguém?

          5. Autocuidado: diga algo gentil, solidário ou compassivo consigo mesmo. Ou descanse construtivamente, ou seja, faça algo "não produtivo", como tirar uma soneca ou caminhar, dançar, cantar, desenhar. Aproveite o não fazer “nada” como um presente para si mesmo. Você tem facilidade de fazer isso?

          Exercício de bônus 6. Pratique a compaixão das lentes: Conecte-se, mesmo que apenas em pensamentos, a alguém que o desafie, alguém que possa ter machucado você ou discorde de você ou que, na sua opinião, cause danos ao mundo. Reconheça que essa pessoa também sofre e expressa seu sofrimento de maneiras prejudiciais. Reconheça sua humanidade comum e envie energia positiva.

Refletir

1. O que te dá alegria? Descreva um momento em que você sentiu grande alegria em sua vida.

 2. O que bloqueia sua alegria? O que desbloqueia sua alegria? Quando triste, como você pode desbloquear a alegria?

3. Das três notas, humildade, amor e alegria, qual marca é mais óbvia em sua vida? Qual é o mais problemático? Explicar.

 

Resumo das Lições 7-18

A humildade, o amor e a alegria que marcam as vidas dos terciários e das terciárias são todas elas graças dadas por Deus. Elas não podem ser conseguidas pelo esforço humano. Elas são dádivas do Espírito Santo. O propósito de Cristo é operar milagres através daquelas pessoas que almejam se esvaziar e se entregar a Ele. Nós nos tornamos, então, canais de graça através dos quais a obra poderosa de Cristo se realiza. (Os Princípios, Dia 30)

 

Personalize sua regra

Depois de lutar com esta lição, que mudanças ou acréscimos você pode fazer no ponto número 10 de sua Regra de Vida com base nos Princípios da TSSF? A Terceira Nota, Alegria, da Regra Básica da Vida (ou em uma área apropriada, se você estiver seguindo a regra tradicional de 9 pontos) para torná-la mais adequada  às suas circunstâncias particulares?  Discuta com seu companheiro ou sua companheira espiritual.